sábado, 13 de agosto de 2016

ESTEVA RODRIGUES DE SOUZA, 1929-2010.

Morte de Mãe

“Eu Sou a Ressurreição e a Vida. Quem exercer Fé sobre Mim, ainda que morra, viverá” (Jesus dialogando com Marta sobre Lázaro, In: 2 João, 11: 25).
Homenagem à minha mãe, que faleceu dia 6 de julho de 2010.
Xiko Mendes
Todas as dores passam.
As dores do parto enquanto o filho nasce;
As dores de cabeça quando os problemas se resolvem;
As dores de cotovelo quando a paixão acaba.
Mas há uma dor que é lancinante e definitiva:
A dor de perder uma Mãe.
Qualquer que seja a mãe: branca, negra, rica, pobre,
Boa, ruim...
Essa é a pior das dores do Mundo:
A dor que não dói num lugar específico do corpo.
Essa dor se espalha pelos poros, pela alma...
É uma dor que devora o pensamento,
Toma de conta do sentimento,
Invade o âmago da alma do mais impassível dos viventes.
É uma dor que exala uma saudade que nunca acaba;
É uma dor que aprisiona lembranças em cada detalhe vivido
Como um filme sem começo nem fim,
Como a foto que congela cenários em porta-retratos para sempre.
É uma dor que fixa residência em nosso espírito agonizante
Como a mais fulminante das obsessões humanas.
Qualquer Ser que pensa faz seu Ritual Iniciático
Para entrar no Mundo Humano
Incorporando ao seu vocabulário
A palavra MÃE logo no início da infância.
E durante a vida inteira
A gente se acostuma tanto
A chamar Mãe aqui, Mãe ali, Mãe acolá...
Que não nos damos conta de que um dia
Nos veremos paralisados diante da única Verdade
Imponderável do Universo: a Morte!
A morte de uma Mãe!!!
Ela nos cala!
Ela não apenas nos paralisa:
Ela neutraliza a pronúncia habitual “Mãe!”
Por outra mais aguda e numa agonia inquietante:
Mãããããeeeeee............................!!!!!!!!!!!!!!!!!
Acoooorda, MÃEEEEEE.........
Fala comigo, Mãeeeee...................
MÃE!!! MÃE!!! MÃE!!! (A Morte a levou!).
Depois disso, veem-nos um SILÊNCIO de doer fundo na Alma!
Gritamos para o Universo inteiro escutar,
Mas aí constatamos que Mãe não é um ser habitual;
É um Ser ÚNICO, eternamente INESQUECÍVEL!
Profundamente sagrado!
Mãe é um Ser mais que sublime:
É uma Dádiva Celestial!
E é por isso que a pior das dores
É a dor de perdê-la em sua dimensão física, PRESENCIAL,
Essencialmente humana.
Por mais que se creia numa outra dimensão de sua Existência,
Perder uma Mãe é perder metade de nós definitivamente.
Mas a Mãe que morre
É a mesma que RENASCE, sempre e eternamente,
Como a mais dolorosa das SAUDADES:
Aquela que nos acompanha em toda a nossa Vida.
Chorando...
Sorrindo...
Com olhos fixos no horizonte
Ou de cabeça baixa e em silêncio.
Morte de Mãe é dor que se multiplica
Com o passar dos anos.
Impiedosamente! Silenciosamente!
E só o Tempo, e apenas o tempo,
Nos devolve à Realidade:
A de que MÃE NÃO SE MORRE;
Mãe se VIVE em tudo que
Fazemos,
Sentimos,
Pensamos,
CONSTRUÍMOS...
E o que nos resta é consolarmos com o Apóstolo Paulo:
Agora, porém, permanecem a Fé, a Esperança e o Amor, estes três;
Mas o maior destes é o AMOR”.


MENDES, Xiko. Sonhos, Silêncio e Saudade em minha viagem ao fundo do Lago Formoso. Bsb: Unifam, 2012.